sábado, 4 de janeiro de 2014

Entre a Cruz e a Espada (Despetalando)

Sei o que disse.
Que não te escreveria mais.
Eu desisto, francamente. Desisto, porém não resisto. Você, dentre tudo aquilo que sonhei um dia, é minha inesgotável fonte de inspiração. E conhecendo-te em todos os teus quatro cantos até onde me permitira, digo-lhe para não orgulhar-se tanto neste papel.

E quando digo que te escrevo, não é que tais palavras se direcionem a você. Além disso, elas são você. Escrevo-te. Leio-te. Sou em ti. Tudo o que nunca me vi capaz de proferir, ao mesmo tempo que significam tudo o que desejo ouvir na tua voz.

Ah, Julie. É frustrantemente provável que eu seja somente mais uma história amarga, daquelas que qualquer dono de boteco ouve numa madrugada de sexta-feira, balbuciadas por um mero bêbado, juntador de meias palavras de uma meia vida vivida pelas bordas. Tantas vezes me obriguei a assistir você fazer menção de partir pra sempre. Tantas vezes fui agredido pelo teu silêncio. Ô, meu bem... Se algum dia quiser realizar meus pesadelos, me acorde antes de ir.
Escolhi esta sentença. A ruína mais prazerosa que há, no martírio sufocante e inegável. No pior dos vícios, que mesmo após a overdose, te deixa vivo. Só pra te fazer doer as sequelas, e você ainda ri.
Ri por sentir-se imbecilmente feliz.

Que a vida me seja em vão se possível for haver felicidade plena sem amor.
E que ela não me baste se tal amor for em vão.
Faz-me viver-te a cada dia o consolo certo de que amor algum nasce em vão. Jamais vi a plenitude, senão ao teu lado. Passa o tempo e eu não sou capaz de me livrar de você, antes que você vire a página sem mim.

Sou tudo aquilo que planejei sem saber.
Eu sou.
Tu és.
Nós sonhos.

                 
                 

                           Pela última vez antes das                   próximas tempestades substanciais, Allan.