segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Versos para Julie - Ela é Fogo.

Ela é fogo que arde e alastra destruição.
Queima e dói, aquece e leva consigo por onde caminha.
Farfalha e canta, relaxa e contorce.
Ela é fogo.

Ela é auspiciosa, é quieta e delirante.
Consome e dissipa, ela é frígida.
Ela atenciosamente leva-me a vida.

Carboniza-me a garganta, incinera-me o ser.
Abrasa-me as palavras, escalda-me as lágrimas.

Ela aniquila e clareia.
Queima e abre a visão.
Dói e alivia.
Sobretudo,
Ela é luz.


Allan.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Cartas para Julie - Aos Pés Da Queda.

Terça-Feira, 27 de Agosto de 2013.


            Por fim dou minha última tragada do dia. Consumo inquietude, libero misantropia. Cada fragmento deste ser humano encontra-se mais extenuado do que jamais se conjurou.
            Estou exausto, Querida. Nada me desalenta mais do que teu olhar falsamente auspicioso, que me provoca delírios psicodélicos dos quais somos heróis sem mérito público. Nada me enturva tanto quanto tua voz em minha direção, acompanhada de teu cheiro entorpecente que me tropeçam as palavras e me coram da cabeça aos pés. Me tens na palma de teus arbítrios, e és consciente desta capacidade indevida.
         
            Mas estes dias exigiram um metabolismo que não possuo, excedestes tudo o que este mero amante conseguira sentir. Amante por mais de uma noite, amante de todas as horas, olhares e palavras. Fui amador teu. Omitir meu demérito não é a saída, muito menos tratar-me friamente. Me transtornas com tuas atitudes oscilantes, se ao menos me dirigisse a palavra de forma menos indiferente... Ambos temos consciência do que acontece neste momento aqui incorporado ao meu íntimo, céus! Nada, Julie. Nada do que eu faça parece lhe abrir os olhos. E estou farto da tua posição como governadora do meu temperamento, que a cada dia corre de zero a trezentos quilômetros em menos de um segundo, juntamente ao teu tom. Sei que nunca fui capaz de me controlar por completo, mas você deixa tudo cada vez mais fora da minha competência. Estou farto, contudo, não sei mais viver sem o teu governo frenético.
       
          E tudo o que lhe peço agora que partirei com o coração trancado na maior mala que guardava, é que extermine cada resquício teu da minha playlist, dos meus papéis, das paredes do meu apartamento. Sobretudo, do interior deste pobre sujeito. Como faísca para meu metabolismo, quem sabe a adrenalina. Saltarei preso a ti, e quando meu corpo mencionar um contato com a terra, então retornarei.
     
  Ponho-me aos pés de uma grande queda que nunca será livre.

                                                                                                                            Allan.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Cartas para Julie - 7 Minutos.

 8 de Setembro de 2013.

7 minutos para 365 dias. Há um ano você passara por mim e puxava consigo algo que se prorroga até o presente momento. Recordo-me precisamente das peças que trajava, do modo de andar e do perfume ambiente.
Questionei tua presença por um segundo. Algo tão moldado para se adequar aos meus desejos me brotara do completo vazio. Aguçara nos quatro cantos de mim, vontades inimagináveis por meus meros devaneios. Feito um tolo, na tua frente chorei. De lamentação, de êxtase, gratidão. O simples movimento direcionado a ti me desencadeava um aperto no interior. Era um tanto utópico tal cenário composto por nós dois. Percepção distorcida por minhas expectações ignorantes. Éramos nada, potenciados a ser tudo.
Rispidamente apedrejas os cascalhos que me remanescem.
De que me é venturoso subsistir em tanta amargura que anseio obstinar?
Enganaste um pobre transgressor com teus artifícios instigantes.
Tanta prosperidade fora dizimada.
Teu negrume devasta-me, Querida.
1 minuto para nossa sardônica celebração. Minhas sinceras congratulações. Levaste em teu bolso o melhor que havia neste contraventor.

    
Allan.

Controvérsias.

Há demônios em minha cama
Há veneno em minha bebida
Mas nada é comparável
Á cegueira dos olhos teus.

Há demônios em minha mente
Há sussurros em minha boca
Mas nada é superável
Á secura dos lábios meus.

Há controvérsias em tuas palavras
Há tremor em meu corpo.
Mas nada é excedível
Ao torpor dos olhos teus.

Há insuficiência em mim
Há negligência em ti
Mas nada é nivelável
Ao amor do peito meu.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Cartas para Julie.

Sexta-Feira, 9 de Agosto de 2013.
   
      Eu poderia escrevê-la em padrão de carta, mas não vou. Não vou, pois entre nós a formalidade sempre se fez presente e eu gostaria que por um instante, deixássemos de espelhar um ao outro.

      Tempos fatigantes, Julie. Talvez você se questione o intuito pelo qual eu insisto na repetição do seu nome. Eu já lhe disse que aprecio o timbre de sua voz? Me passas uma segurança irradiada sobre o topo de mil arranha-céus. Deixo-lhe a voz e reservo a mim as palavras, minha intuição se conforta desta forma. Sete meses. Pelo amor de Deus, compreende o que isso significa para alguém como eu? Sete meses de confidência, sete meses trancados num quarto ao som melancólico das músicas que designei como trilha sonora daquilo que nunca se edificou. Sete meses soluçando e gemendo como um recém-nascido em silêncio. Na minha quietude, habitei uma realidade insolúvel.
      Lhe assisti como um pai assiste uma partida de futebol do filho. Me orgulho de cada trajetória que percorreste, de cada vitória traçada com tua pureza sincera. O amor que sinto por você não se restringe meramente a homem-mulher. Eu lhe sinto como carne da minha carne. Tudo o que lhe atinge é apto para me doer.

Sei que falo demais. Venho buscando artifícios que não se retém. Você é demais para mim.

Você me teve naquele instante ínclito, passaste por mim levando consigo algo que não retomarei sob nenhum acaso. Julie, você se tornou o melhor dos meus pesadelos. De todos os meus temores, o mais inconsequente.
    É insólito. Cada passo em tua direção me parece uma aproximação direta com a forca. Você nunca foi um prêmio, Julie. Você é o jogo em si. A razão de lhe escrever, a razão de lhe desejar um bom dia, uma boa noite a cada giro deste mundo. Você me move como peça de um tabuleiro. Contudo, se ao teu lado me reduzo a pó, então assim desejo ser.


Feliz Aniversário, Querida.


                                                                                                               Allan.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Felizes São os Ingênuos.

Tenho escrito muito, ando tentando descrever.
Prorrompi o peito em mil palavras, quem sabe eu lhe alcance em meio a tantos versos.
Pensando bem, nem eu mesma me vejo mais em minhas obras, em meus livros, em qualquer música.
Senão aquela em que lhe caracterizei, lhe mostrei, e você nem por uma vez deduziu.
Lhe descrevi a visão que me passas daqui de dentro.
De dentro do meu intrínseco, da secura em minhas ações quando me ponho frente a ti.
Secura não por natureza, secura por teres tanto de mim em ti,
De teres roubado a alma do corpo, sem que percebestes.
Nenhum autor, ator, ilustrador, poeta, filósofo, compositor ou psicólogo.
Nenhum deles soube descrever as tempestades substanciais que me ocorrem sem previsão.
O que antes era espelho, agora é parede densa e branca tal como inverno.
Insaciável, o mundo me fere externamente. Nenhum veneno excede as ruínas do teu.
Da tua incredulidade que me ultrapassa como lança.
E deixa rastros que percorrem meu rosto até contornarem a boca e embaçar a visão do que não era prudente revelar aos meus receios efêmeros.
Felizes são os ingênuos, em seu mundo quimérico.