domingo, 20 de janeiro de 2013

Panela sem tampa.

Vinha reparado um padrão em sua vida. Não a vida que circunda na presente atmosfera que vivia, mas a vida que completa sua translação dentro de si.
Não se construiu pra ser tampa da panela de ninguém, nasceu como laranja sem metade. Cresceu pra solidão em termos, pra ser o ombro daqueles que possuem a última peça do quebra-cabeças. Pra ser religião, o genuflexório onde os joelhos desgastados depositam as mágoas incorporadas no âmago. Era aquela que todos almejam e aquela por quem ninguém se afeta. Talvez seja tão ordinária que não necessite de complemento. Partindo dessa filosofia, poderia ter em mãos a alma que desejasse. No entanto, que sensatez há em tirar parte de outro? Contudo, poderia querer todas as laranjas, e nenhuma lhe possuir.
Talvez seja amarga demais para conservar gomos de si vagando por entre os andarilhos que não a enxergam.
Deveria haver alguém.
Alguém que apreciasse música dos anos 80,
Alguém que soubesse extrair o melhor de cada ser vivo, que pudesse analisar cada silhueta como uma só.
Alguém que cortasse as cascas do pão, alguém que cantasse pras paredes quando sozinho.
Alguém que desse valor a cada pequeno gesto do dia-a-dia.
Alguém que serenasse seus medos, que passasse o polegar levemente sobre suas sobrancelhas.
Alguém, somente um alguém que ponderasse sobre cada linha dos livros que guarda na prateleira, cujas páginas estão manchadas de café e chocolate.
Alguém que gostasse de Chico Buarque, Zeca Baleiro, Cazuza e Legião.
Alguém que não ligasse pra detalhes fúteis que enchem a cabeça da maioria.
Alguém que contemplasse a arte em todas as suas épocas.
Alguém que sentisse alegria em andar sem rumo, mapeando-se internamente.

Não há ninguém como ela. Ninguém que pudesse preencher seu côncavo. Era singular, um inteiro.
Ela se mantém na prateleira. Até que Alguém resolva retirá-la e ler mais do que meramente o que transparece ser.

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