quinta-feira, 23 de maio de 2013

Fátima (Prantos Para Julie)

         13 de maio, noite de uma gélida e cruciante sexta-feira. Allan dormia no sofá da sala, o corpo doído não interferia no semblante desalento que desenhava-lhe o rosto. Na cozinha, a garrafa de uísque não omitia o que ele costumava alcunhar a si mesmo como vergonhoso, fraco e condenável. Um ser humano que travara a pior das guerras: contra si mesmo.

I'll never let you see the way my broken heart is hurting me...

Era ininterrupto, cíclico. Carregava nos ouvidos os mesmos conselhos impacientes, "você é um idiota", ele sabia que a linha entre a estupidez e a esperança era tênue e que sua caminhada sobre ela era um tantinho desequilibrada. Vez ou outra ele bambeava, um lado puxava e o outro tentava segurar firme.

I've got my pride, and I know how to hide all my sorrow and pain...

Sua mente agora dançava. Dançava e dançava descalça sobre a neve, neve de uma floresta cujos pinheiros eram negros, as flores não exalavam cheiro e o horizonte acabava em cinza. Inabitada, abrigando pés roxos e um sorriso tão velho e gasto que necrosava. E a chuva chegava. E sua mente dançava descalça sobre a neve, dançava, dançava... Até que alguém surgisse na cova da Iria e soprasse-lhe os medos para longe.

I'll do my crying in the rain...




Desperte, amor.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Torna-te quem tu és!