quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Quem dirá.

      O clima naquele dia estava hesitante, era setembro e a cidade abrigava um ambiente de frieza humana com o calor do sol. Não acontecia nada fora do cotidiano de cada cidadão, o marasmo tornava-se cada vez mais denso.
       Um jovem lecionando aguardava seu ônibus impacientemente frente á sua escola, a cabeça exausta e o corpo dolorido. Cerrou os punhos, estralou os dedos e cruzou os braços. Procurava uma postura em que se sentisse mais relaxado e confortável, porém sem sucesso. Enfim avistou seu ônibus e embarcou, sentando no  primeiro banco que lhe pareceu conveniente. Relaxou cada músculo de seu corpo, sentindo um enorme alívio por estar enfim indo para casa. Recostou a cabeça na janela e caiu-se em quimeras, preocupou-se com o próprio desempenho em física, com o curso de inglês, com a mãe e o pai. Mantinha-se sob um medo constante quanto às obrigações e responsabilidades, queria um momento de paz interna. Seus pensamentos foram bruscamente interrompidos pelo freio do ônibus, provocando uma pancada nada leve de sua cabeça na janela. Mal humorado, ele xingou algo em silêncio, pôs-se com a coluna ereta e travou o pescoço de forma que só pudesse olhar para frente.
      Uma jovem em idade escolar, de regata branca e calça de tactel azul marinho, entrou no veículo com a expressão branda e a mochila de longas alças. Desequilibrou-se e deixou o cartão de transporte cair. Abaixou-se para pegá-lo, deixando á mostra um desenho feito com caneta no pulso. A garota sentara dois assentos á frente. Manteve a mochila em seu colo, cerrou os punhos, estralou os dedos e cruzou os braços.
      Fitando-a, ele se sentiu em êxtase. O desenho em seu pulso o fez palpitar de ansiedade, o modo como ela agia o deixava em transe. Nunca fora de crer em soulmates, mas algo em seu conceito mudara. Ele a observava com cautela, pondo seus fones de ouvido e virando o olhar para a paisagem que se desenhava lá fora. Resolveu que seria estranho demais, repentino demais, depressa demais, qualquer possibilidade de contato. Voltou a atenção para a janela quando o ônibus parou no sinal. Um outdoor encontrava-se bem á frente de seu campo de visão, exibindo a seguinte propaganda: "Há coisas na vida que você tem apenas uma chance para fazer. Tire já sua Certidão de Nascimento e seja reconhecido como cidadão!"
       Ele assentiu. Pensou uma, duas, trezentas vezes. Quantas vezes na vida o destino ou qualquer força superior lhe manda uma mensagem tão rápida e objetiva? Quase hesitou por um segundo, mas a vontade do desconhecido era maior. Levantou e sentou-se ao lado dela.
- Então, você é fã de Linkin Park? - ele tremeu os lábios, tentando manter a voz em tom constante.
A garota sorriu levemente, afastou os cabelos e tirou um fone.
- Desculpe, eu não te ouvi e tive de fazer leitura labial. Você perguntou se eu gosto de Linkin Park?
Ele confirmou com a cabeça. Sua voz era forte, mas terna.
- Aqui. - Dando um de seus fones a ele, ela aumentou o volume.
Ao colocar o fone, ele se virou para ela e começou a observá-la com atenção. Tinha o semblante mais pronunciado que ele já havia visto. Com sua melhor expressão de cumplicidade, ele disse:
- Esta é a minha música preferida.

Faltavam ainda alguns quilômetros para a saída de ambos. Quilômetros que se estenderiam por tempos e tempos.
     

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